quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Braço da Barrosa II


Na sequência do “post” anterior, sobre este local, mostramos um recanto do Braço da Barrosa, onde existia um antigo ancoradouro, que se denomina: “Cais da Rainha”, e que se tem progressivamente transformado cada vez mais em zona pantanosa. Foram aliás várias as Rainhas (p. ex. D. Maria I) que mandaram construir pontes e cais na lagoa para mais facilmente caçarem patos e galeirões, contando-se também que o rei D. Carlos tinha especial predilecção em fazer (a bordo de um barco) tiro a grandes exemplares de peixes. Para além das muitas espécies piscícolas (robalo, linguado, solha, rodovalho, dourada, choupa, tainha, enguia, etc.) há uma grande diversidade (e quantidade) de espécies diferentes de patos e de outras aves – que já descrevemos anteriormente. Podemos observar, aliás, numa das imagens, para além da zona pantanosa do primeiro plano, ao longe uma enorme comunidade de patos. Na segunda imagem vê-se um flamingo em plena degustação – tal como as outras espécies de aves que o rodeiam. Como curiosidade referimos que, entre as várias lendas que existiam sobre a lagoa, havia uma que se baseava num documento guardado no Mosteiro de Nª Sra. da Piedade da Berlenga que descreve ter sido avistado um ser humano “com corpo de peixe” a mergulhar nas águas misteriosas da lagoa. Mas o perigo real consiste não só no assoreamento e transformação em pântano, mas também na quantidade enorme de lixo e poluição de origem humana (o rio da Cal que termina no braço da Barrosa transporta esgotos das Caldas da Rainha) que se tem vindo a acumular nos últimos anos, neste local, apesar das dragagens na década de 1980. É importante, com urgência, que sejam de novo executadas dragagens - que se estendam também a este braço e não se limitem à bacia de contacto com o mar, bem como vigilância e eventuais intervenções de conservação e correcção ambiental - periódicas - desde a ETAR à saída das Caldas (Águas Santas) até ao braço da Barrosa .

Smuga cienia (linha de sombra) - Wojciech Kilar

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Braço da Barrosa I


Vista do local da Lagoa de Óbidos denominado de "Braço da Barrosa" colhida de Leste em direcção à sua comunicação com a restante lagoa.
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Lazy Afternoon ("Basra", 1965) - Pete La Roca

A Lagoa de Óbidos é a que resta das três grandes lagoas que existiam na região desde o fim do neolítico (2000 a 2500 A.C). As outras duas eram: a lagoa de Alfeizerão (hoje reduzida à concha de S. Martinho) e, mais a norte, a da Pederneira que era navegável até Alcobaça (extinta durante o séc. XVII). A lagoa de Óbidos era muito mais extensa (8 a 9 vezes maior do que na actualidade) alcançando, por altura da ocupação romana, o sopé dos muros do castelo de Óbidos no seu lado Poente e prolongando-se para Oeste até ao Sobral da Lagoa. Há notícias que, pelo menos desde o início do século XV, as populações lutam contra o fim anunciado da Lagoa, através da abertura regular da ligação ao mar, sempre ameaçada pelo assoreamento. Tem orientação NW — SW e estende-se, no sentido do comprimento, ao longo de seis quilómetros, com uma largura que oscila entre os mil e os mil e quinhentos metros. Na sua área mais interior, salientam-se o Braço da Barrosa, a leste, junto da foz do Rio da Cal e o Braço do Bom Sucesso, a sudoeste. Têm vindo a reduzir-se com tendência a transformarem-se em zonas pantanosas e já não existiriam se não tivessem sido executadas dragagens entre 1981 a 1987. Além da água do mar que penetra através da "Aberta" (ver etiqueta) também recebe água doce vinda dos rios Real, Arnóia e Cal e seus afluentes, que ali desaguam. A sua Bacia hidrográfica, com 438 Km2, recebe águas provenientes dos Concelhos de Caldas da Rainha, Óbidos, Cadaval, Bombarral e Lourinhã. O Braço da Barrosa, que deve o nome a uma antiga quinta/casal com o mesmo nome, na sua contiguidade, integrava as doações iniciais da Rainha D. Leonor ao Hospital Termal e possui uma paisagem de grande beleza e serenidade - onde podemos apreciar, como se tratasse de uma reserva, uma fauna muito diversificada convivendo lado a lado. Assim ouvimos (e observamos) os saltos de robalos e tainhas ecoando no silêncio do fim das tardes no meio de uma variegada e enorme comunidade de aves. Para além da garça-real, do pato-real, do ostraceiro, do maçarico-real (é empolgante assistir à sua caçada às enguias que se contorcem desesperadamente no seu bico), do garajau, da garça boieira, da garça-branca-pequena e das gaivinhas de bico preto também surgem ocasionalmente flamingos. Uma paisagem fascinante e um ambiente surpreendente a contemplar e saborear serenamente.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Let´s go out tonight

Há fins de tarde em que a atmosfera dourada e reconfortante se vai instalando também dentro de nós. Como se tudo afinal sempre estivesse bem e o ar voltasse a ser de cristal. O acaso volta a ter uma importância especial e as cores vibram como se as contemplássemos pela primeira vez. Enquanto a escuridão vai estendendo o seu manto sobre a paisagem esta começa a enfeitar-se com pontos brilhantes de candeeiros que se vão acendendo. Os locais vão ficando mais desertos. Então, subitamente, ficamos com vontade de partir sem destino pela estrada do meio da noite.


Let´s Go Out Tonight – The Blue Nile

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A Fauna da Mata das Caldas da Rainha


Tenho publicado aqui, acerca da Mata das Caldas da Rainha, sobre espécies vegetais que me parecem interessantes. No entanto a Mata também possui fauna própria - mormente com uma boa diversificação de aves (rolas, pardais, piscos de peito ruivo, rouxinóis, pintassilgos, verdelhões, poupas, gaios, melros, corvos, tordos, alvéolas, garças, etc). Também estão presentes répteis vulgares como: salamandras, sapos (enormes), relas e diversas espécies de cobras, ratos e lagartos. É referida ainda a presença de doninhas e de morcegos - estes habitando túneis antigos de escoamento de águas superficiais denominados “minas” da Mata. Tanto quanto sei está por fazer um estudo com o consequente inventário sobre aquela fauna. As publicações existentes descrevem sempre apenas a vegetação. Seria importante, em minha opinião, existir uma publicação, devidamente ilustrada, que fosse um referencial sobre a Flora e a Fauna da Mata. Hoje contribuo com imagens captadas, durante o final da tarde de um dos últimos dias de Agosto passado, de um(a) simpático(a) Ouriço Cacheiro (Erinaceus europaeus). É um animal essencialmente de hábitos nocturnos, embora activo nas primeiras e nas últimas horas do dia, que pode viver até cerca de 7 anos (hiberna entre Novembro e Março), alimentando-se sobretudo de insectos mas também de pequenos frutos ou répteis. Tem essencialmente bom olfacto e audição – sendo a visão muito fraca. Aliás como eu estava sentado e em silêncio o animal (com cerca de 18cm) caminhou praticamente na minha direcção sem se aperceber que vinha ao encontro de uma sessão fotográfica inesperada. A reprodução é "espinhosa" e ocorre entre Abril e Agosto. Cada ninhada é composta de quatro a sete filhotes, que nascem em ninho de folhas secas.

It Hurts To Be In Love – Gene Pitney