segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

My dog was not a dog

O meu cão não era um cão.
Durante mais de oito anos ensinou-me a falar sem abrir a boca. Numa linguagem de olhares e de pequenas expressões ambos sabíamos o que o outro pensava e sentia.
O meu cão não era um cão.
O seu olhar doce e atento foi-me mostrando que é possível amar incondicionalmente ao mesmo tempo que me ensinava a rir e a brincar como um cão.
Mas o meu cão não era um cão.
Era como se nos entendessemos numa frequência de onda especialmente sintonizada para nós. Assim, sabíamos que precisávamos um do outro e fomos companheiros das cumplicidades do dia-a-dia. A paz invadia-nos quando sabíamos que o outro estava perto e a alegria dos gestos amenizava os temporais da vida.
O meu cão não era um cão.
Confiávamos a cem por cento um no outro porque sabíamos com quem não podíamos contar.
A pouco e pouco foi-se instalando um processo mimético. Cada vez mais ia ficando parecido comigo e eu com ele. Os outros foram os primeiros a reparar. Só agora vejo que tinham razão.
O meu cão não era um cão.
Era um outro eu. Para melhor. Como um alter-ego especialmente desprendido dos valores materiais e dotado de sentidos e intuições especiais e de afectos sem reservas.
Por isso no processo de mútua transferência de características fiquei a ganhar. Fiquei uma pessoa também melhor. Coisa que, naturalmente, só um ser muito especial pode fazer. Por isso digo: o meu cão não era um cão. Era o meu irmão gémeo que me acenava com a cauda – do outro lado do espelho.
O meu cão não era um cão...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

The old fountain

Esta é uma das duas fontes colocadas, há cerca de um século, no topo nascente da área das “merendas” na Mata Rainha D. Leonor em Caldas da Rainha e ainda ostenta alguns azulejos da Fábrica Bordalo Pinheiro. Á sua frente existe uma zona não arborizada onde tinham lugar jogos populares (malha, pelota, etc.) que complementavam os piqueniques organizados desde a transição dos séculos XIX e XX até meados do século passado. Foi tempo de “burricadas” com partida em frente do antigo Hotel Lisbonense e que terminavam com lautos lanches ou “almoçaradas” na Mata, no pinhal do Fiel Amigo ou na Quinta das Gaeiras – na periferia da população. Tempo de “expedições” planeadas com muita antecedência para os espaços verdes em redor da cidade. Tempo de toalhas aos quadradinhos, cestos com iguarias, panelas, mangas arregaçadas, suspensórios, saladas, garrafões, resina, cardos, urtigas, migalhas, formigas, sardinhas, melões, doces caseiros, olhares proibidos, beijos frescos abençoados pelas sombras das árvores. Tempos que se foram esbatendo sobretudo a partir das décadas de 1960 e 1970, com a aparição de novos grupos sociais e protagonistas com estratégias demolidoras para as paisagens naturais.
As duas fontes permanecem isoladas na Mata sendo actualmente pouco frequentadas. Pontos de encontro que ainda esperam por nós. Como em muitas outras também nestas se acreditava que quem deitava moedas, em noites de lua cheia, nas suas águas via os seus desejos realizados…

Three Coins In The Fountain - Four Aces

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Romancing the clouds


Above the sea
Two clouds
Two lights
Two souls
Closely burning
Sustaining each other as one
As a disguise of our two hearts


My Romance - Mel Tormé

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Hidden city

Acrílico sobre tela (1mX1m) - 2006
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Prayer - Vassilis Tsabropoulos

O que torna Árgia diferente das outras cidades é que em vez de ar tem terra. As ruas estão completamente cobertas de terra, as salas cheias de argila até ao tecto, sobre as escadas assenta outra escada em negativo, por cima dos telhados das casas pairam camadas de terreno rochoso como céu com nuvens. Se os habitantes poderão andar pela cidade alargando os cunículos dos vermes e as fendas em que se insinuam as raízes, não o sabemos: a humidade quebra os corpos e deixa-lhes poucas forças; convém que fiquem quietos e deitados, de tão escura que é. De Árgia, cá de cima, não se vê nada; há quem diga: “É lá em baixo” e só nos resta acreditar; os lugares são desertos. De noite, encostando o ouvido ao chão, às vezes ouve-se bater uma porta. (Italo Calvino in “As cidades Invsíveis”)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Red waters


During a twilight at Óbidos lagoon

The lagoon forgot the cry of seagulls
Another day prepares to cold and silence
The twilight wind caressing my face
I´m here, there, elsewhere
In a new beginning
And the waters are burning
Burning, burning...

Eternamente (Mascheroni) - Claudia Muzio

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fishing at twilight time

Two different moments of same twilight - Óbidos lagoon. In the beginning (above) 
there are more "rosy" hues. At the end  (bottom) colours are more bluish/violet.

The violet hour
Brought people home
Except a few ones
Lost and staying

Staying on the edge of light

Light
The visible reminder
Of Invisible light

Then deeply inside we can hear a music that can´t be heard
We are the music while music lasts

On an Ocean- Lisa Gerrard