sexta-feira, 30 de março de 2012

Shadows on the wall

O sol estende sombras pela cal da parede como quem estende oásis no caminho de calor na praia diária. Apetece estar dentro do fresco desta sombra perfumada - e tocar-te como se fosses a sombra das árvores da adolescência. O retrato da parede sabe-me a fruta madura e ao canto das cigarras enquanto beijo as asas dos pássaros.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Ombreira

De ombro na ombreira
(Alexandre O Neill)

De ombro na ombreira vejo
No outro lado outro
Ombro na ombreira
Entre ombros nas ombreiras
Nenhum assombro:
Ombros ombro a ombro
Param ombro a ombreira
Quando tudo escombro ainda todos seremos ombro na ombreira

A Sentimental Journey - Doris Day

segunda-feira, 26 de março de 2012

Theatre of Life


There is a line
Between light and shadow
There is an old man
Trying to take the side of light
Descending the stairs of his life

There is a line
Between light and shadow
There are other people
Looking on Darkness
As if watching a movie

The film's story of man's life 


quarta-feira, 21 de março de 2012

Tudo o que o Mistério da Saúde deveria saber - e tomar em consideração - sobre o Hospital Termal das Caldas da Rainha

Uma retro-escavadora de aspecto ameaçador em frente do Hospital Termal Rainha D. Leonor parece simbolizar os perigos que ameaçam esta Instituição com mais de 5 séculos - na sequência da reestruturação que o Ministério da Saúde se propõe executar em breve nas estruturas Hospitalares da Região.

1 - A viabilidade das Termas Caldenses prende-se também com a necessidade de procurar manter toda uma herança patrimonial, transmitida ao longo de gerações durante mais de cinco séculos. É essencial a compreensão de que todo o Património Termal Caldense, associado ao H. Termal, tem não só como origem o legado da Rainha D. Leonor e sucessivas doações, mas também de que essas sucessivas doações obedeceram quase sempre a uma estratégia integradora para todo o Património Termal, articulando, ao longo do tempo, de um modo complementar e sinérgico as diferentes peças que compõe a actual Estância Termal das Caldas da Rainha. Os próprios Pavilhões foram pensados e executados como Hotel (um modelo termal que continua actual) para os termalistas, complementando as outras peças da estância das C. da Rainha. Aquele princípio que se tem transmitido, desde os antigos Provedores, é afinal uma mais-valia fundamental para a estratégia termal e concelhia. Essa UNICIDADE funcional significa que o eventual destino de cada uma das peças patrimoniais não deve ser pensado isoladamente, mas antes respeitando uma lógica que assentou numa agregação sucessiva de Património e não na sua desagregação. O legado da Rainha D. Leonor e sucessivas doações (aldeias, individualidades, etc.) que surgiram até final do Séc. XIX, obedeceram quase sempre a uma estratégia global para todo o Património Termal, articulando, ao longo do tempo, de um modo complementar e sinérgico as diferentes peças que compõe a actual Estância Termal. Por uma questão de Ética e Moral devem ser respeitadas as vontades dos Doadores – que não o teriam feito se existisse outro destinatário que não a Estância Termal. Se – num horizonte futuro – existir a necessidade de autonomizar a gestão do Termalismo, a instituição que vier a ser criada para gerir a Estância Termal das C. da Rainha deverá respeitar tanto quanto possível a UNICIDADE de todos os seus componentes.

2 - A composição química da Água Mineral Natural (AMN) das Caldas da Rainha é uma singularidade a nível mundial. É rara a água mineral sulfúrea que seja tão fortemente mineralizada. Enquanto a maioria deste tipo de AMN, em Portugal, é fracamente mineralizada (cerca de 200mg por litro) a AMN nas Caldas tem mais de 3000 mg/L. Este dado é relevante para a acção preventiva e terapêutica dado que estudos sugerem que quanto maior for a concentração de Enxofre reduzido na cartilagem das articulações menos ela se atrofia e envelhece, e quanto mais quantidade daquele elemento existir na mucosa nasal e peri nasal – mais poderoso o efeito antialérgico nas afecções do tracto respiratório superior. É relevante ainda para efeitos de utilização em termos de imagem e de “marketing”.

3 - O tempo de formação da AMN, consoante um dos últimos estudos/investigação realizados revelou que o aquífero das C. da Rainha demora não só cerca de 7 mil anos a percolar as estruturas geológicas até chegar às emergências adjacentes ao H. Termal, mas também está suficientemente protegido, por aquelas mesmas estruturas, da acção humana. Ou seja há um produto (a AMN) com garantias, demonstradas cientificamente, de qualidade inalterável e com duração suficiente para que se possa confiar no investimento sustentado nas Termas das C. da Rainha.

4 – Trata-se do Hospital mais antigo de Portugal com Regulamento próprio (o Compromisso da Rainha, a raiz geradora das Misericórdias portuguesas e um dos H. Termais mais antigos do Mundo, a merecer classificação (IGESPAR) e que integra um Monumento Nacional (a Igreja de Nª Sr.ª do Pópulo). A condição de se tratar um dos H. Termais mais antigos do Mundo e o mais antigo Hospital português, possuindo corpo clínico e detentor do mais antigo Regulamento (O Compromisso) Hospitalar do País – são elementos que, de modo inquestionável, trazem valor acrescido não só históricos mas também em termos de imagem e de promoção futura. Como é óbvio é um dado que justifica a manutenção do “cordão umbilical” entre as vertentes Clínica e Termal tornando obrigatória a actividade médica no Hospital Termal. Sem actividade Médica não há Hospital. Em consequência deixaríamos de manter a importante mais-valia da existência de um dos mais antigos H. Termais do Mundo em funcionamento.

5 - Trata-se do Espírito de lugar. De facto, toda a História das Caldas da Rainha, a sua marca identitária e personalidade própria estão assentes no pilar essencial que é a Estância Termal de onde tudo surgiu e deve voltar a surgir já que é o Termalismo Caldense que marca a grande diferença para com todas as outras regiões. Não seria lógico não se tirar partido daquilo que se tem e os outros não – sendo ainda para mas um produto de qualidade sustentada e que pode trazer melhor ambiente económico se souber trazer os clientes adequados. Finalmente, Caldas da Rainha sem Espírito de lugar não seria mais Caldas da Rainha.

6 - Caldas da Rainha iniciou, há mais de 5 séculos, um percurso de constante aperfeiçoamento de uma estratégia concelhia que sempre apostou no "cluster" da Saúde. Esta região sempre dependeu e depende de uma estratégia para o seu desenvolvimento económico e social assente no "espírito de lugar" representado pelos sucessivos hospitais e que é, simultaneamente, marca identitária. Esta aposta no Sector Saúde está inscrita no Plano de Desenvolvimento do Concelho por razões também do desenvolvimento económico regional. Não por acaso a População foi ao longo dos tempos articulando a actividade económica com o Turismo de Saúde. Turismo de Saúde que volta a ser uma ideia e um caminho no mundo e sobretudo em Portugal – com especial vocação - na rota de um “negócio” avaliado, actualmente, em cerca de 70 mil milhões de euros (Expresso de 25/2/2012). Sobretudo porque temos serviços de referência e mais baratos do que a grande parte dos restantes países ocidentais – o que nos coloca numa posição vantajosa em termos de poder competitivo. Por isso faz sentido que se pondere e enquadre, no âmbito, do tão desejado desenvolvimento da Economia Nacional – imprescindível no curto prazo, o planeamento da Saúde na Região Oeste de modo a não inviabilizar mais tarde aquele caminho. Seria desastroso que a região Oeste, com especial aptidão neste campo, perdesse um fluxo turístico muito importante, em consequência do atendimento em termos de Saúde não vir a oferecer, eventualmente, as garantias necessárias.

segunda-feira, 19 de março de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

Behind clouds

Na hora de pôr a mesa, no princípio, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, a minha irmã, o meu irmão e eu.
Depois vim morar longe de todos – noutra cidade.
Entretanto, chegaram as minhas 3 filhas e eram 8 os lugares na minha mesa.

Depois, há 10 anos, o meu pai voou com uns pombos que estavam à janela do quarto dele no hospital.
Depois, a minha irmã mais nova e a minha mãe foram as duas juntas, faz 3 anos, ter com o meu pai.
Depois as minhas 3 filhas ficaram a viver longe – lá para Lisboa – perto do meu irmão.
Hoje, na hora de pôr a mesa, somos oito.
Menos a minha irmã, menos o meu pai, menos a minha mãe, menos as minhas 3 filhas e o meu irmão.

Cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho.
Mas irão estar sempre aqui.
Na hora de pôr a mesa, seremos sempre oito.
Enquanto estiver vivo, seremos sempre oito.

(adaptado/modificado do Livro "A criança em ruínas" de José Luís Peixoto)

And then so clear - Brian Eno 

quarta-feira, 7 de março de 2012

A Saúde no Oeste

A Piscina da Rainha é considerado o local mais antigo do Hospital Termal Rainha D. Leonor - fazendo parte do seu percurso museológico.
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No dia 24 de Fevereiro de 2012 escreveu-se uma página de História nas Caldas da Rainha quando cerca de 2 mil pessoas envolveram o conjunto dos Hospitais deste Concelho – num abraço simbólico. Nunca (nem no 1º de Maio de 1974 nem no 25 de Abril se concentrou tanta gente nas Caldas da Rainha). Não se deve ignorar este grande exemplo de Cidadania que não excluiu ninguém e que a todos importa. Foi reconhecido o protagonismo das Instituições de Saúde que são a Alma e o Coração de toda uma Região. A População disse também que não se deve desbaratar esta herança - honrando e não apagando ou invertendo mesmo o papel essencial que o Sector da Saúde representa nesta área geográfica. Todos perceberam que Caldas da Rainha está perante um dos maiores desafios e encruzilhadas de sempre e de cujo resultado dependerá a História do seu futuro.

Os munícipes pretendem manter Cuidados de Saúde adequados que sirvam com segurança cerca de 250 mil habitantes em redor das Caldas, não perdendo Valências Básicas do Hospital Distrital, perante a actual reestruturação em curso, no Ministério da Saúde, agregando o Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON) ao H. Torres Vedras.
O Ministério da Saúde espera poupar 27,5 milhões de euros com a reestruturação de serviços nos hospitais das Caldas da Rainha e de Torres Vedras, afinal uma opção aparentemente centrada unicamente em critérios economicistas e que não resultam, a nosso ver, em ganhos de eficiência bem como no acesso aos cuidados de saúde por parte das populações.
Não se trata de juntar o Oeste Norte com o Oeste Sul como tem sido anunciado. O Oeste Sul deixou de existir, de facto, em termos de Saúde. Os Concelhos de Mafra, Sobral de Monte Agraço e o sul de T. Vedras drenam actualmente para o novo Hospital de Loures, e o norte do Cadaval e Lourinhã já são atendidos desde há muito pelo Hospital das Caldas. Ou seja pretende-se antes juntar o H de T. Vedras (o H. J. M. Antunes que estava integrado no C. H. T. Vedras, também deixará de existir e os respectivos doentes irão para o H Pulido Valente) servindo parte do próprio Concelho com cerca de 79 mil habitantes com o Oeste Norte que serve hoje quase 300 mil habitantes – com o H. das Caldas ficando no centro geográfico da região na qual se prende criar um único, e eventual, futuro Centro Hospitalar, sem se saber sequer qual o incremento de custos em transportes entre os 2 hospitais e entre estes e os Hospitais Centrais bem como se é possível (e não é) atender toda a população equacionada nas estruturas e camas previstas na proposta apresentada em Fevereiro pela ARS de LVTejo - mormente cirúrgicas. Esta proposta baseia-se, aliás, em dados retrospectivos (2011) não fazendo análise prospectiva - sobretudo após o início em 2012 de funcionamento do H. Loures.
O H. T. Vedras a cerca de 15 minutos do H. de Loures terá tendência a ser progressivamente absorvido por este. E se traçarmos no mapa as áreas de atracção dos Hospitais de Loures, V. F. Xira, Santarém e Leiria – o que sobra é uma área com cerca de 250 a 300 mil habitantes constituída pelo norte dos Concelhos de T. Vedras, pelos Concelhos do Cadaval, Lourinhã Bombarral, Peniche, Óbidos, Caldas da Rainha; pelo sul dos Concelhos de Alcobaça e Nazaré e ainda pela zona mais oriental do Concelho de Rio Maior.
O H. de Torres, após a entrada em funcionamento, em breve, do Hospital de Vila Franca de Xira, vai ficar ainda com cada vez menos Utentes, somando-se ao efeito absorvente do Hospital de Loures e até de Santa Maria. O Hospital das Caldas mantém uma área geográfica intocada - o que poderá estar a ser minimizado devido a uma conjunção de factores que poderão conduzir a falta de esclarecimento.
Dado que faria mais sentido articular o H. Torres Vedras a Sul, com Loures, Vila Franca e Santa Maria, porque não se faz a integração/articulação daquele hospital com o Centro Hospitalar de Lisboa Norte?
Por isso também faz sentido uma Petição Pública que foi elaborada e assinada por mais de 12 mil cidadãos, a ser entregue na A. República, que pede:
A manutenção das valências existentes no Hospital Distrital das Caldas da Rainha, nomeadamente as necessárias ao funcionamento da Urgência médico-cirúrgica (fazendo sentido relembrar o que refere o Despacho n.º 727 de 2007 sobre Urgências Médico-Cirúrgicas).
A manutenção nas C. Rainha das Valências que se articulam com a actividade termal, mormente a Reumatologia, a Medicina Física e de Reabilitação e Otorrinolaringologia. A manutenção do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Oeste, nas instalações das Caldas da Rainha.

Por outro lado também se pretendeu sublinhar que Caldas da Rainha iniciou, há mais de 5 séculos, um percurso de constante aperfeiçoamento de uma estratégia concelhia que sempre apostou no "cluster" da Saúde.
A ARS LVTejo demonstra ignorância ainda quando propõe: o “Encerramento do Hospital Termal Rainha D. Leonor atendendo a que as instituições hospitalares devem centrar a sua actividade na assistência e prestação de cuidados médicos às populações, o património do Hospital Termal, Mata, jardim, igrejas, etc) deverá ser cedido, mediante protocolo de cedência de utilização à Câmara Municipal das Caldas da Rainha, assim como deve ser equacionada a concessão do Hospital Termal Rainha D. Leonor a uma unidade de gestão hoteleira que rentabilize o equipamento e o edifício”.
É uma prova de quem está a decidir em gabinetes em Lisboa, e nunca veio sequer conhecer o terreno, está longe de perceber de que se trata: do mais antigo hospital de agudos (com regulamento próprio) português, da raiz desencadeadora das Misericórdias em Portugal, de um dos Hospitais Termais mais antigos do Mundo - conferindo o espírito de lugar a uma região - e com uma Água Mineral de características singulares com potencial competitivo a nível mundial. Ou seja: desbaratar uma riqueza que é um bem público. Porque não privatizar também a Torre de Belém e os Jerónimos - transformando-os em hotéis? Porque não ser coerente e propor que os vários jardins integrados nos restantes Hospitais públicos (Coimbra é exemplo) passem também a ser atribuídos às respectivas Câmaras Municipais. De outro modo teremos 2 pesos e 2 medidas.
Trata-se de apagar do mapa 500 anos de História sem se entender que esta região depende de uma estratégia para o seu desenvolvimento económico e social assente no "espírito de lugar" representado pelos sucessivos hospitais e que é, simultaneamente, marca identitária. Desde o legado da Rª D. Leonor vários foram os legados de sucessivas gerações empenhadas na afirmação e desenvolvimento dos cuidados de Saúde, privilegiando-se uma estratégia de constante agregação de Património vocacionada para a Saúde e não a sua desagregação. Não esquecendo que esta aposta no Sector Saúde está inscrita no Plano de Desenvolvimento do Concelho por razões também do desenvolvimento económico regional.
Não por acaso a População foi ao longo dos tempos articulando a actividade económica com o Turismo de Saúde. Turismo de Saúde que volta a ser uma ideia e um caminho no mundo e sobretudo em Portugal – com especial vocação - na rota de um “negócio” avaliado, actualmente, em cerca de 70 mil milhões de euros (Expresso de 25/2/2012). Sobretudo porque temos serviços de referência e mais baratos do que a grande parte dos restantes países ocidentais – o que nos coloca numa posição vantajosa em termos de poder competitivo. Por isso faz sentido que se pondere e enquadre, no âmbito, do tão desejado desenvolvimento da Economia Nacional – imprescindível no curto prazo, o planeamento da Saúde na Região Oeste de modo a não inviabilizar mais tarde aquele caminho. Seria desastroso que a região Oeste, com especial aptidão neste campo, perdesse um fluxo turístico muito importante, em consequência do atendimento em termos de Saúde não vir a oferecer, eventualmente, as garantias necessárias.