quarta-feira, 27 de março de 2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Les oranges II


O sabor das laranjas de ontem renasceu-me nas laranjas que hoje colhi. Com o mesmo ritual de outrora descasquei devagar com os dedos que depois separaram os gomos e provei com deleite o seu sabor doce acidulado e fresco como se estivesse sentado na calma da sombra de uma árvore até ficar todo impregnado de perfume de laranjas e fosse a correr depois pelo campo até encontrar no outro lado do pinhal outros lábios a saber ao sol e à alegria. 

L´orange - Gilbert Becaud

segunda-feira, 18 de março de 2013

The Box


Inside The Box
We live
We act

And we think
There will be
A better world
Outside the Box

But there´s no one
On the beach
Outside the Box

Desert cold - Simon Blooom

sexta-feira, 15 de março de 2013

Sea of sand

Si tu savais mes nuits… rien
Si tu savais mes rêves… rien
Si tu savais mes rires… rien
Si tu savais mes joies… rien
Mais si seulement tu savais la taille de mon âme…
La taille de mon âme - Daniel Darc

segunda-feira, 11 de março de 2013

Wind on water


When the Love blows
Over the lake inside your heart
Undress and caress it
And let the water door wide open

Wind on water - Robert Fripp and Brian Eno

sexta-feira, 8 de março de 2013

Kaos


Symphony Nº3 (Symphony of Sorrowful Songs) - Henryk Górecki 


A CRISE E OS PORTUGUESES A PROPÓSITO DE UM LIVRO
Muitas vezes a propósito de um livro escreve-se que este é obrigatório ou seminal. No caso de “Kaos” obra póstuma (1981) de Ruben A. será verdade. 
Ruben A. (Rúben Alfredo Andresen Leitão) foi (1920-1975) um escritor para o qual muita gente não estava (está) preparada e por isso pouco descoberto. Um caso ímpar, em Portugal, na escolha dos temas, no humor fino e no arrojo e originalidade da escrita.
O tema de “Kaos” é perfeitamente actual e atravessa e atravessa-nos neste momento, na casa em que vivemos que é este nosso País, em que só as moscas são diferentes numa tragicomédia em que idealismo e ganância, patriotismo e conveniência, tendem a confundir-se por distracção ou ausência de Culturiosidade, fingindo-se que não se percebe ou não se dá por isso.
As 250 páginas avassaladoras de “Kaos” disparam ininterruptamente rajadas de frases que atingem em cheio o córtex frontal da mentalidade portuguesa. Apesar de descrever o País entre 1900-1916,mistura Passado e Presente. Vasco Pulido Valente referiu (e bem desta vez) que “O Kaos é aparentemente a República. Mas também é 1820, o Liberalismo, a Revolução (1974), Portugal”.
Ruben A. relata, num registo alucinante e propositadamente tresloucado/irónico, a loucura mansa da realidade Portuguesa. Sem moralismos ou orgulhos serôdios - desnuda a alma lusitana como quem disseca na aula de biologia as manhas e certezas de um qualquer animal. Num diagnóstico terrível sobre o panorama nacional em que os tipos de pessoas renascem constantemente em cada geração como actores cujo guião é fazer mais do mesmo para nada mudar ou mudar muito pouco. Assim, periodicamente, o País é inundado pelo medo e, em vez de nadar, fica paralisado prestes a afogar-se. Então só consegue recorrer a tiques que ficaram do tempo da Inquisição - que se sente ainda - invisível a serpentear pelas ruas onde se vocifera, se denuncia e se diz mal - a cavalo na inveja e na vingança -, onde ninguém liga aos cardumes de problemas e à desolação dos outros. Nas páginas do livro, onde ontem e hoje se confundem em cenários surreais, Comemora-se na véspera a data de revoluções que se espera acontecer, e reunimos muito, vigiamos e falamos diariamente uns com os outros sentados na hipocrisia, no desejo de vencer sem trabalhar, a assistir à trafulhice organizada, à pandilha que governa, ao compadrio descarado e à corrupção constante e quase nunca punida porque o único dos gatunos que foi acometido de doença súbita e morreu foi impossível de identificar na casa mortuária da Justiça. 
Implacável, Ruben A. refere que serve apenas para ver e fazer ver numa procura no dentro de um nós que é eu. Quem mergulhar nas primeiras dezenas de páginas fica envolvido pelo ritmo acelerado das frases e mergulha ainda mais no esplendor da escrita sem saber como regressará depois. Atreva-se e descubra um dos grandes livros de sempre da Literatura Portuguesa.